Clube do Vinil – Edição do Mês Beth Carvalho

Clube do Vinil
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As andanças estéticas ecléticas do LP de estreia de Beth Carvalho

Uma das maiores sambistas do país, Beth Carvalho, (1946-2019) nasceu na emblemática Gamboa, no centro do Rio, mas foi criada na zona sul carioca, em meio a acordes de violão da bossa nova. Frequentava reuniões de Marcos Valle e Tom Jobim e estreou num compacto, “Por quem morreu de amor”, em 1965, à convite dos autores, os bossanovistas Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Engajada nos festivais, Beth logo estava frequentando outra turma, que impulsionaria seu desembarque nacional com “Andança”, terceira colocada no Festival Internacional da Canção, de 1968.

Fiel ao formato festival, a toada moderna “Andança” com a famosa “desdobrada”, sob medida para o povo cantar, nasceu na casa de Beth, como ela contou em entrevista, em 2009. Era então noiva de Edmundo Souto, um dos autores. “Ele fez a melodia e chamou Danilo Caymmi, que chegou com a flauta e já fez o contracanto: ‘me leva amor/ por onde for/ quero ser seu par’. Ligou para o Paulinho Tapajós que umas quatro horas depois, já tinha a letra pronta”.

 É a faixa título do LP de estreia da cantora, lançado em 1969, com participação dos roqueiros Golden Boys. No disco há outras toadas modernas, como “Maria Aninha” (Fred Falcão/ Arnoldo Medeiros) e “Rumo sul” (Souto/ Tapajós). Era um subgênero tributário do baião, surgido nos rescaldos da bossa nova, numa época de revalorização da música nordestina. Mas o suingue do acompanhamento de várias faixas do disco é do Som 3, formado por Cesar Camargo Mariano (piano), Sabá (baixo) e Toninho Pinheiro (bateria), que também fornecia o combustível para outro subgênero, a pilantragem funkiada de Wilson Simonal.

O Som Três ainda destila seu embalo minimalista em três revisitas. O samba canção “Nunca”, redescoberta de Beth do gaúcho Lupicínio Rodrigues, gravação inicial de Dircinha Batista, em 1952. Do mesmo ano, na voz motriz de Dalva de Oliveira, é a marcha rancho “Estrela do mar” (Marino Pinto/ Paulo Soledade). E o samba carnavalesco “Fechei a porta”, portentoso êxito de Jamelão, de 1959.

Marcos e o irmão Paulo Sérgio Valle entregaram a canção de protesto “Maria da favela”. É mais uma com o coro afinado dos Golden Boys, que ainda emolduram a impactante estreia de “Sentinela”, de Fernando Brant e Milton Nascimento, a quem ela conheceu nos festivais. “Ficamos amigos, ele fez ‘Sentinela’ me deu para gravar, e fez questão de tocar o violão”, orgulhou-se Beth. Outra dupla autoral marcante do disco, Baden Powell e Vinicius de Moraes, já numa linha pós-bossa nova e afro sambas, comparece com o sucesso “Samba do perdão”, e a rara “Um amor em cada coração”.

Cevada na percussão, a faixa “Carnaval” (Nelson Lins e Barros/ Carlos Elias, da Portela), abre a janela da futura carreira de Beth, devotada ao samba, iniciada em shows com Zé Keti, Noca da Portela e Nelson Sargento. Pontua a letra: “Carnaval/ pode ser onde for/ não faz mal/ gente branca ou de cor/ tudo igual/ vou buscar meu amor, afinal”.

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